Caderno Saúde

Medicação de dose única contra o HIV chega a Pelotas

Dovato, que reúne os antirretrovirais Lamivudina e Dolutegravir, começou a ser distribuído pelo Ministério da Saúde em janeiro

Foto: Divulgação - DP - Segundo a secretaria municipal de Saúde, a medicação está disponível, inicialmente, para 170 pacientes que cumprem requisitos estabelecidos pelo Ministério da Saúde

Por Heitor Araujo
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Desde janeiro, é novidade no tratamento de HIV no Brasil o Dovato, um medicamento que reúne duas medicações antirretrovirais fornecidas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – a Lamivudina e o Dolutegravir.

O Ministério da Saúde distribuiu, inicialmente, 5,6 milhões de unidades aos estados e municípios. Em Pelotas, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 170 pacientes receberão essa medicação, que substituiu o uso diário de dois comprimidos por apenas um.

O número, embora pareça inicialmente baixo, levando-se em consideração as 2,5 mil pessoas que recebem o tratamento no município, relaciona-se ao status inicial da distribuição da medicação pelo Ministério, que colocou critérios para a aplicação aos pacientes, conforme tabela a seguir.

Essa dose única diária da medicação é considerada um passo importante no tratamento contra o HIV. Infectologistas apontam que a simplificação deve acarretar em uma maior adesão dos pacientes aos cuidados para manter a infecção sob controle.
De acordo com Paulo Orlando Monteiro, médico infectologista e professor da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), “a terapêutica que mais se desenvolveu quantitativamente e qualitativamente, nos últimos 30 anos, para o tratamento das doenças infecciosas foi, sem dúvida, a para o HIV”.

Neste contexto, a simplificação para uma dose de comprimido ao dia facilita aos pacientes cumprirem o tratamento. “[O dovato é] uma apresentação com dois medicamentos já existentes e amplamente usados há anos, e que vem se tornando o tratamento de escolha num processo denominado ‘simplificação’ do tratamento. Ele ‘simplifica’ e o paciente tende a fazer o tratamento adequadamente”, pontua.

O médico Hilton Luís Alves Filho, infectologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e do Hospital Escola da UFPel (HE), ressalta a evolução no tratamento ao HIV a partir de 1999, com a combinação de três medicações, até o surgimento do Dolutegravir, considerado potente e seguro, que simplificou à terapia dupla, aplicada hoje em dia à maioria dos pacientes. “O Dovato demonstra essa revolução no modo como tratamos o HIV. Tomar um único comprimido por dia, as chamadas doses fixas combinadas, com medicações modernas com pouco ou nenhum efeito colateral, promove maior adesão ao tratamento e consequente melhor qualidade de vida e longevidade”, aponta.

Disponível em Pelotas

Por meio de nota encaminhada pela Assessoria de Comunicação (Ascom), a SMS informou que o Dovato já está sendo distribuído em Pelotas. “Em situações específicas, pois há alguns critérios, porque o governo não tem ainda disponibilidade para todos os pacientes. A demanda vai ser atendida aos poucos”, segundo Lúcia Real, médica do Serviço de Atendimento Especializado (SAE) em HIV/AIDS, Lúcia Real.

O SAE tem, segundo Lúcia, 6,1 mil pacientes cadastrados, dos quais 2,5 mil retiram regularmente a medicação antirretroviral – destes, 170 vão receber o Dovato, em uma “distribuição que já está sendo feita conforme dispensação de cada paciente”.

A medicação

Com o Dovato, o paciente precisa tomar apenas um comprimido ao dia, o que ajuda a cumprir o tratamento

O Dovato foi aprovado pela Anvisa em 2021. Em outubro de 2023, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao governo federal, forneceu as primeiras unidades ao Ministério da Saúde, que iniciou a distribuição aos estados e municípios em janeiro.
Segundo a Fiocruz, a expectativa é fornecer até 30 milhões de unidades da medicação ainda em 2024. O infectologista Hilton Luís Alves Filho, da UFPel, pondera que essa distribuição deverá ser “escalonada e progressiva”, para que se garanta a logística e não falte a medicação aos pacientes”.

De acordo com Paulo Orlando Monteiro, infectologista da UCPel, os critérios definidos inicialmente para o acesso à medicação deram-se por razões orçamentárias e, assim que houver disponibilidade maior, deverá ser disponibilizada a todos os pacientes. “Essa prática já ocorreu em outras situações. É importante lembrar que o programa brasileiro de HIV-AIDS é um exemplo de gestão, execução e resultado para o mundo todo”, explica.

O Rio Grande do Sul é o estado com maior mortalidade por Aids, a evolução da infecção pelo HIV, que pode acontecer de sete a dez anos no organismo do portador do vírus. Conforme publicado pelo Diário Popular em dezembro do ano passado, Pelotas voltou ao top 100 de municípios brasileiros com mais casos da doença. Segundo o médico infectologista Paulo Orlando Monteiro, um dos fatores que podem explicar a alta contaminação por HIV no Estado é o sorotipo predominante, do subtipo C, diferente do restante do País, no qual a predominância é do subtipo B. “Esses subtipos diferem em velocidade de replicação e virulência; o assunto tem respostas ainda incipientes, mas essa diferença da estrutura viral está na gênese dessas disparidades dos números do RS”, explica.

Desafios do tratamento para pessoas vivendo com HIV

Por Hilton Luís Alves Filho, Médico infectologista com foco em saúde de IST, HIV e Aids, hepatites virais e HTLV

A adesão à terapia antirretroviral (TARV) é essencial para que o HIV não destrua a imunidade e avance a ponto de causar o adoecimento, a AIDS em si. A questão do início da epidemia de HIV e de tomar vários comprimidos por dia, em horários específicos, não é a realidade no tratamento do HIV há mais de 20 anos. A ideia antiga do chamado “coquetel” não existe mais.
Os efeitos colaterais, também muito temidos antigamente, que interferiam na qualidade de vida das pessoas, também já foi superado e hoje o normal é não sentir nada, sendo necessário exames de rotina uma a duas vezes ao ano para verificar efeitos adversos mais raros e monitorar a saúde.

A grande questão ainda é a morte civil (como dizia Herbert Daniel) que muitas pessoas enfrentam mesmo com todos esses avanços na ciência. O estigma e o preconceito contra pessoas vivendo com HIV e Aids dificultam o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento, pois afasta muitas pessoas das suas redes de apoio como amigos, familiares e da comunidade, seja por medo de saber seu status seja por vergonha que descubram sua sorologia.

Problemas de saúde mental como depressão, ansiedade, abuso de substâncias psicoativas e outras condições podem dificultar a adesão ao tratamento.

A sorofobia, nome dado ao conjunto de estigmas, preconceitos e discriminação que pessoas vivendo com HIV e Aids ainda são vítimas, é estrutural na sociedade e estruturante do pensamento e das atitudes de todos nós como indivíduos e como comunidade. Isso faz com que nunca falemos sobre HIV e, quando falamos, repetimos o preconceito e não refletimos como um assunto nosso.

A sorofobia pode afetar o trabalho, a escola, serviços de saúde e outros ambientes como a própria casa, o que gera um silenciamento e aprofunda o sentimento de solidão e exclusão que algumas pessoas vivendo com hiv e AIDS experimentam no cotidiano.

O Medo de revelar ou ser descoberto sobre status da sorologia para o HIV, é assim ser rejeitado ou discriminado pode levar as pessoas a esconder o seu diagnóstico daqueles que ama, o que dificulta o acesso ao tratamento e sua manutenção, ainda leva a pessoas a morte pela aids.

A falta de conhecimento sobre o HIV pode levar a crenças errôneas e aumentar o estigma, por isso o HIV tem q ser um assunto nosso, do dia a dia, para que cada vez mais pessoas saibam como se prevenir e que o diagnóstico não é uma sentença de morte e existe acolhimento e tratamento todo disponível pelo SUS.

As Campanhas de conscientização, a educação formal nas escolas e universidades são extremamente importantes para gerar consciência na população sobre o HIV, seus modos de transmissão e as diversas formas de prevenção. Só assim conseguiremos evoluir em respeito como evoluímos na ciência. Nosso dever é zerar o estigma e a discriminação, pois só assim conseguiremos erradicar a aids como problema de saúde até 2030 como almeja a OMS.

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